O que começou com um olhar singelo
vira constelação:
quanto mais tento apontar,
mais estrelas escapam.
As sensações são tantas,
que quando tento alinhar,
elas escorrem pelos intervalos.
Então escolho o Indizível:
essa língua sem alfabeto,
essa gramática sem letras,
que o corpo entende.
Borboletas inquietas
tecem no ventre uma dança de vento;
e, ao mesmo tempo,
os pés firmes assinam o chão.
E, diante disso, caminho atenta
como quem segura um copo cheio
sem derramar o que treme.
Há em mim um silêncio
que acolhe o barulho do coração,
e ainda assim,
uma parte insiste em descalçar o mundo,
tirar os pés do chão,
fazer do instante jardim.
A vontade se apresenta
como maré sob lua cheia.
Eu não sei nomear.
E talvez nem queira:
há coisas que, quando nomeadas,
viram apenas som.
Então eu fico:
dando espaço para o sentir
como quem abre a janela
e não pergunta ao vento
para onde ele vai.
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